quinta-feira, 31 de julho de 2008

Seu Alberto,o porteiro universitário

Foto by Google

Há anos o senhor Alberto é porteiro no edifício onde eu trabalho. O conheci em 2001, quando comecei no escritório.
Ele é um senhor de uns cinquenta e uns quebrados,negro,alto,forte,muito bonitão.Me lembro que de vez em quando,ele até fazia uns bicos como segurança em festa chique na cidade.Uma vez, até sair em coluna social, ele saiu.
Pois a simpatia e alegria,qualidades indispensáveis em um porteiro de edifício comercial,sobram no Alberto. Ainda mais no tal ambiente de escritórios,empresas,gente estressada.Nada como chegar de manhã,preocupado com tanto trabalho que o dia inteiro promete e dar de cara com o sorrisão do senhor Alberto,desejando um bom dia.A alegria contagiante dele não enfraquece nem mesmo com o desempenho desastroso do Galo,seu time do coração. Mas quando o Galo ganha,aí sim,é só alegria!
Depois de quatro anos fora, eu volto e tá quase tudo igual no edifício da Rua Paraíba. Algumas novas lojas na galeria,outras de longa data e com os mesmos funcionários, as mesmas faxineiras e Alberto e Toninho na portaria, alternando os dias.
Quando me veem,não escondem a felicidade. De volta?!Mas por onde você andou,menina?Agora é pra sempre??Tá bunita!!!
Ô beleza...e eu me sinto em casa,como se jamais tivesse saído de lá e imaginando:Meu Deus, eu moro num país tropical,abençoado pelo senhor,bonito por natureza e com uma gente de simpatia e carisma insuperáveis.
Pois eis que voltando às minhas atividades,procuro me interar do que aconteceu durante todos estes anos com as pessoas que eu costumava a ver todos os dias.A faxineira,o motoboy,um fornecedor,parceiro,entregador de água,etc.
E chegamos ao senhor Alberto. Alberto,menina,agora tá muito chique. Acredita que ele fez vestibular, entrou pra faculdade de Direito e nos dias que não vem trabalhar como porteiro é estagiário no escritório de advocacia aqui do lado??
Não!!!Não pode ser verdade!! Sim que pode,e é.. Nada surpreende quando trata-se do seu Alberto.De terno e gravata já sabiamos que ele ficava bem,livrinho debaixo do braço eu também já tinha visto. De vez em quando,lá dentro da portaria,tava ele,lendo algum livro...
No momento em que soube da novidade,uma alegria tomou conta de mim.Acho que nem era alegria,era mais orgulho. Orgulho de ver um homem na idade do Alberto,que batalha como porteiro,começar novos projetos que certamente faziam parte de seus antigos sonhos. Enquanto a maioria reclama,se frustra e fica parado achando que a vida acabou,lamentando-se que não tem mais energia,pique,dinheiro,saúde,paciência,saco,capacidade,ou seja,encontrando mil e uma desculpas para não realizar um sonho,seu Alberto tá lá,tranquilão.
De vez em quando, eu desço pra tomar um café,ou fazer um serviço fora e tá lá ele de código penal na mão,livros variados de Direito,oclinhos,estudando. Essa semana tá dureza,tem prova.
Seu Alberto é tão bacana que ainda se lembrava da data do meu aniversário.Provavelmente assim como eu lembrava a data do aniversário da senhora que trabalha na loja de móveis de escritorio e que faz anos junto comigo.
Me deu um grande abraço,desejando tanta felicidade.
Hoje, passando pela portaria,peguei o Alberto falando sobre Aristóteles e a política.Fui subindo devagarinho as escadas para escutar mais um pouco de seu discurso.Pra mim, a imagem do porteiro que falava sobre o Galo era incompatível com aquela do homem que discute a política e filosofia, cursa Direito e tem planos de fazer pós e mestrado. Pensativa, me perguntei: quanto ainda terei de evoluir para chegar ao patamar do porteiro do edifício onde trabalho,o querido seu Alberto?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Para Daniela

Foto by Google

Eu sei muito,muito bem o que é estar longe.Compreendo cada palavra,gesto,sentimento que implique o que chamamos de saudade.A distância não são só quilômetros,horas ou qualquer outro tipo de medida. O concreto,palpável e ordinário é o que menos conta quando as tardes são infinitas e as noites solitárias.
Deve ser igual na floresta quando cai a noite e cada bicho procura seu buraquinho,seu esconderijo e a luz da lua acompanha a sinfonia das águas,dos sapos,dos grilos. Cada um procura sua toca, cada um se retira, sai de cena pra dar lugar a um novo conjunto.
Afeto,carinho e amor nada têm a ver com dependência,pelo menos não deveria.No lugar dela,entra a saudade, que no final das contas, não é tão maldosa assim.A distância significa conquistas,a novidade significa crescimento. A saudade deve significar admiração.Profunda admiração por quem busca uma nova vida,em outro lugar, satisfazendo toda sua necessidade ambígua de desfazer laços e criar novos,num vai e vém infinito.
Nascemos juntas,mas jamais poderemos crescer no mesmo passo.Suas pernas são muito maiores que as minhas e mesmo que elas sejam mais cautelosas por onde pisam,começam a chegar muito além do que eu podia imaginar, do que você mesma poderia imaginar.Agora, elas não são só duas,elas são quatro e matematicamente é logico que a saudade, aquela que vista pelo lado bom é a admiração,duplica e torna-se mais forte.
Se alguém me vir chorar,não se preocupe,estou bem. É apenas mais uma crise de admiração que passará tranquila,leve,serena. Os olhos azuis agora são quatro e não dois e eu sei que eles se guiam por si próprios iluminando as estradas que a gente sempre irá enfrentar.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Topetudas

Foto by Google


Adorei a estética exagerada desta foto,onde os cabelos e a maquiagem são de fazer arrepiar de inveja o grande topete da Amy Winehouse.
Os looks foram idealizados pela francesa Christian Dior. Super divertido.

sábado, 26 de julho de 2008

Ironias da História

Foto fornecida pela Tia Lígia


Os Discacciati,vovô e seus filhos

Falo muito da Itália e dos italianos por aqui.Entre elogios,críticas e declarações de amor,acho que nunca falei de preconceito. Dias atrás, recebi um texto da minha amiga Renata, assinado por Contardo Calligaris,psicanalista italiano radicado no Brasil, que escreve para a Folha de São Paulo.
Neste artigo,Calligaris fala sobre o censo da população cigana que o governo italiano decidiu realizar e o compara ao início da exterminação de judeus, durante o nazismo e o fascismo.
Certamente nada foi fácil para o meu bisavô quando ele chegou aqui no Brasil, no começo do século passado.Sei de poucas histórias que alguns tentam reunir e me contam. Entre elas, a traumática separação entre os irmãos, já que um deles se perdeu na chegada em Santos e nunca mais tiveram notícias, não existem registros, nem nada.
Muitos anos depois, eu fiz o caminho inverso e fui parar em uma Itália repleta de imigrantes.Muitos deles (ou de nós) prestam serviços que os italianos geralmente rejeitariam como limpeza,trabalhos duros em fábricas ou cuidando de idosos e pessoas muito doentes. Ainda assim, a imigração é sempre motivo para chamar a atenção do país sobre a questão do estrangeiro, da instabilidade econômica e da taxa de desemprego na Itália.
Como diz o próprio Calligaris em seu artigo,é possivel entender a desconfiança e o medo gerado por um grupo étnico que realmente encabeça as estatísticas de violência no país,mas isso não justifica o comportamento de grande parte da população e dos políticos com o estrangeiro, muito menos um censo como este.
Sou cidadã brasileira e sou cidadã italiana.Mesmo com boa aparência,documentação perfeita,italiano fluente e correto, por várias vezes, fui alvo de preconceito.Dentro do trabalho,em meio a chefias e colegas e, principalmente, quando me colocava na pele de muitos outros que não contavam com a minha regalia de ter um passaporte da Comunidade Européia.
Incontáveis as vezes em que vi marroquinos,romenos(os ciganos),albaneses sendo mal olhados e temidos.
Uma vez, em um bar, vi um sujeito a noite inteira sozinho.Não estava mal vestido,nem parecia que não tinha dinheiro para estar ali.Não parecia tímido e não parecia que esperava ninguém. Puxei assunto e o convidei para sentar na mesa em que dividia com amigos brasileiros.Ele era romeno,estudante de arquitetura e certamente, em seu país, tinha boas condições financeiras.O fato de ser romeno(uma das raças mais desprezadas e odiadas pelos italianos)o condenava a estar sozinho na mesa de um bar,onde tantas pessoas juntas se divertiam,conversavam e bebiam.
Muitas vezes, vi romenos e albaneses roubarem nas ruas,praças,nos ônibus,no metrô.Muitas vezes, escutei histórias,li em jornais e vi em TV's que marroquinos estupravam e violentavam mulheres. Inúmeras vezes, vi crianças ciganas pedindo esmolas nas ruas e lavando os vidros dos carros nos sinais. Me sentia em casa,que grande ironia.
A política separatista de grande parte da Itália representa acima do medo e da necessidade de defesa, uma grande ironia.
Os tempos eram outros,não existe dúvida, mas meu bisavô,ao sair da Itália,assim como aqueles que saem da África e do Leste Europeu,tinha a mesmíssima coisa em mente, a esperança.
Eu acredito na bondade do homem e me lembro com afeto e ternura de tantos ucranianos,russos,albaneses,romenos,chineses,africanos,filipinos,marroquinos com quem convivi e descobri incríveis histórias de vida.
Minha admiração será infinita pelas pessoas que lutam e se superam para garantir para a família e pra si mesma,um pouco de dignidade que infelizmente não puderam encontrar em seu país de origem. Minha admiração pelo meu bisavô,bisavó,seus irmãos,primos,tios,parentes,que aqui vieram com esperança de construir a vida, será sempre em forma de gratidão,pois essa força,essa coragem e determinação poucos conhecem e muito menos dão valor.E eu faço parte dela.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Luxo...

Foto by Google

"Quando perguntam o que é luxo para mim, digo que é ter um galinheiro em casa e ovos frescos todos os dias. Nada de excesso e ostentação."

Rosita Missoni, estilista da italiana Missoni

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Manchetes de jornais

Foto by Google


E enquanto muito longe daqui eu curtia a minha sombra, essas eram as manchetes que assombravam o meu país.

O preço do caos aéreo
Isto É Dinheiro - SP

Enquanto FAB investiga pane, o passageiro sofre
Correio Braziliense - DF

Aeronáutica investiga sabotagem em radar e controladores negam
O Globo - RJ

Perigo chamado Congonhas
O Estado de Minas - MG

FAB conclui que pane em Manaus foi barbeiragem
O Estado de S. Paulo - SP

Pista de Congonhas sob suspeita reabre amanhã
Folha de S. Paulo - SP

Atrasos nos vôos chegam a 44% no país
O Tempo - MG

Pane acirra crise e atrasa vôos
A Notícia - SC

O governo cínico de um presidente aéreo
Jornal Opção-GO

Aeronáutica pode forjar provas, diz líder de controladores
Gazeta do Povo - PR

Atrasos em até 64% dos vôos aumentam revolta em aeroportos
Zero Hora - RS

Cala Nova

Foto by Google

Foto by Isabela

Eu,Francy e Lapo chegando a Cala Nova

Tenho manias estranhas.Às vezes abro as agendas dos anos anteriores pra conferir o que eu estava fazendo exatamente nesta data em um ano qualquer. Desta vez,não fui muito longe.Pelo menos cronologicamente. Dia 23 de julho de 2007, eu me encontrava debaixo de uma sombra,ora dormindo,ora escutando música,ora sentindo o cheiro e o barulho do mar de Ibiza,na Espanha.Era meu segundo dia na ilha em que os dias se resumiam em praias paradisíacas,algumas cervezas,mojitos,frutas tropicais,conversas jogadas fora e noites de pura diversão. Meus companheiros de viagem, Francesca e Lapo,italianos,eram meus colegas do trabalho e juntos fizemos uma das melhores viagens de nossas vidas.Esta é Cala Nova,uma praia onde o sossego só foi perturbado com a passagem de um helicóptero no meio da tarde e por nossas apostas de quem seria o VIP que estaria chegando no pedaço.This is Ibiza!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Zanini de Zanine

Fotos by Google


"Do meu pai herdei a inquietação". Este moço bonito é Zanini de Zanine,filho de José Zanine Caldas,que segundo a wikipédia foi paisagista,maquetista,escultor,moveleiro e arquiteto auto-didata. Zanine pai foi uma grande figura,contemporâneo de gênios como Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Sérgio Rodrigues.O talento nato para a construção de casa,maquetes e móveis rendeu-lhe nos anos 60, um convite de Darcy Ribeiro para dar aulas na UnB. Dizem que Zanine pai sempre foi criticado e perseguido por não ter diploma.
Mas passamos então ao Zanini filho.Conheci este moço tímido,mas muito simpático ao trabalhar em um congresso de decoração,mês passado.As pesquisas anteriores ao evento e o contato com o Zanini não me deram por nada a dimensão do talento desse jovem ex "garoto de praia" carioca. Tinha lido que ele era um garoto revelação,cheio de boas idéias,que pegava restos de pranchas de surf e os transformava em banquinhos super legais.E só.
Não podia imaginar,porém, a simplicidade e a criatividade de um garoto que tem essa mente inquieta,que segundo ele, não tem hora pra fechar o galpão. Trabalha sábado,domingo,feriado,até onde essa mente fantástica o levar.
E lá estava o jovem Zanini, 30 anos, na frente de uma platéia de arquitetos,decoradores e designers bem mais velhos que ele, a falar sobre "Design Contemporâneo".
A beleza chamou sim a atenção e o charme discreto e tímido conquistou quem não o conhecia e fez virar fã quem já tinha ouvido falar sobre.
Pois Zanini começou falando do pai,mostrou um vídeo que ele e alguns amigos fizeram em homenagem ao velho Zanine que morreu há sete anos.Zanini filho só se deu conta de que era filho de um grande, quando entrou pra faculdade de Desenho Industrial,no Rio.
Seu primeiro estágio foi com o mestre Sérgio Rodrigues,amigo e parceiro do pai. Mas não foi daqueles estágios,ah,emprega meu filho aí.Zanini tinha talento de sobra. E foi isso que ele mostrou durante toda sua apresentação. Criatividade,originalidade,DNA puramente brasileiro e nosso sentimento de inventar e reinventar, de tirar do lixo coisas novas. E é assim que o Zanini trabalha. Dos tubos de PVC que encontra jogado nas obras,ele cria mesas. Dos restos da indústria do surf (por sinal,super tóxico)ele faz banquinhos divertidos.O mesmo faz com as pranchas de skate. As rodinhas viram enfeites,apoiadores. Dos ferro-velhos, ele tira as grades antigas de janelas e com um tanta,mas tanta criatividade dá nova vida ao que antes estava morto e esquecido.
O que mais impressiona no Zanini é essa coisa jovem,pulsante,verdadeira,empolgante,criativa. Essa coisa que a gente, que tem idade,capacidade e responsabilidade de mudar o mundo tinha que ter. De realizar coisas novas,de não copiar modelos antigos,de fazer valer nossas idéias,nossas palavras, nossa arte, da forma que ela for existir.Se a minha for escrevendo,que eu a faça valer,se a sua for defendendo,que a faça valer,se a do outro for salvando vidas,que a faça valer. O que a gente tem que fazer é sair dessa inércia,do conformismo, da ignorância e criar soluções criativas e bonitas (por que não?) para um mundo melhor.
A lição do Zanini pra mim, com mínimo entendimento na área do design, pelo menos, foi essa.
Mais Zanini:
www.daquidobrasil.com

domingo, 20 de julho de 2008

Palavras de Maiakovski no domingo

Foto by Google

A primeira vez que ouvi falar o nome Maiakovski foi no primeiro periodo da faculdade,quando um professor religiosamente lia algo antes de começar a aula.
A segunda, se nao me engano, foi em uma musica do Zeca Baleiro.
Pois Maiakovski foi um dos mais importantes poetas russos de todos os tempos.Gostava de falar dele com a minha amiga russa que se espantou ao saber que eu o conhecia.
De Maiakovski hoje deixo as seguintes palavras

"Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente."

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Lalau,Lili e o Lobo

Foto by Google

Esta é a cartilha Lalau,Lili e o Lobo.O ano de publicação é 1955 e o autor se chama Rafael Grisi. Eu a conheço pois meu pai me contava que tinha aprendido a ler a partir dela. Me lembro que em casa tinha um exemplar deste livro e algum tempo atrás,passeando pela loja do Ronaldo Fraga, me deparei com uma camiseta da coleção infantil com a estampa da capa do livro.
Nunca consegui imaginar meu pai sentado no banco da escola(como será que era a escola naquela época?)aprendendo a ler com Lalau,Lili e o Lobo.Não consigo encontrar razões lógicas por que isto voltou na minha mente hoje. Consigo imaginar meu pai pequeninho,carregando o livrinho debaixo do braço e voltando pra casa,contando o que tinha aprendido na escola...Hoje levei minha sobrinha ao Parque Municipal.Enquanto ela sonha com a roda gigante eu estou aqui,pensando na Lalau,na Lili e no Lobo.Com o que será que meu pai está sonhando?

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Viagem pela Venezuela num ônibus para Brasília


Myriam no Jardim Botânico, no Rio


Esta é Myriam Alamo.Mais uma personagem que conheci da maneira que mais adoro,rodando por este mundão de meu Deus. Eu não tenho carro.Nunca ganhei dos meus pais e nunca consegui comprar um,pois todo o dinheiro que ajunto tem destino certo:minhas viagens. E é exatamente esta,para mim,a única vantagem de não ter um carro:andar em meios de transporte coletivo,seja ele ônibus,metrô,trem,bondinho ou avião. Coletivo.O nome é bem esse. A coisa não pertence a ninguém,ao mesmo tempo que pertence a todos.Em uma viagem,você nunca vai estar sozinho,vai ter sempre alguém do teu lado. De ônibus,a certeza vem quando você compra uma passagem de corredor.Todas as janelas já estão preenchidas.Tenho milhares de histórias de pessoas muito interessantes que conheci em pontos de ônibus,dentro de aviões,aeroportos,estações,trens...realmente uma infinidade.
Mas hoje falarei da Myriam Alamo.Era a primeira vez que eu ia de ônibus para Brasília.A vida mansa do avião tinha acabado quando acabou meu dinheiro.Muni-me de paciência,boa vontade e um comprimidinho poderoso pra encarar a viagem.Entrando no ônibus vi essa mulher bem diferente e apostei comigo mesma: Tenho certeza ABSOLUTA que ela vai sentar do meu lado.Dito e feito.E senta ela do meu lado,se ajeita e pergunta com um sotaque estranho: você sabe a que horas chegamos em Brasília?Huumm...Adoro essa cara de gringa mochileira e parece que eu atraio esse tipo de gente.Por um segundo arrependi-me de ter tomado o comprimidinho porque o sono já tava batendo e percebi que dali tinha muita conversa pra sair.
Myriam me explicou que era da Venezuela e que vinha ao Brasil para conhecer nosso país e ver alguns parentes perdidos pelo tempo e distância.Que já tinha passado pelo Rio de Janeiro,Ouro Preto e estava indo conhecer a arquitetura estranha de Brasília,daria um pulo a Salvador (me perguntou se Maceió ficava perto)e depois voltaria a Caracas.O mais curioso foi a história que me contou de como ela encontrou os parentes. Ela sabia que tinha parentes no Brasil,mas tinha perdido contato com todo mundo. E vai embora pra internet achar esse povo,lista telefônica,páginas amarelas,brancas,azuis,verdes,google...Algumas ligaçães para o Rio de Janeiro para pessoas com o mesmo sobrenome e pronto: Encontrou as tais parentes.
A Myriam era louca para aprender português e assistia a todas às novelas da Rede Globo lá na Venezuela. Ficou combinado então que uma vez por semana ela ligaria para as parentes para treinar a língua.Meu Deus,eu estava me deliciando com esta história.Logo eu,fascinada por essa coisa da vida de conhecer pessoas diferentes.
Myriam me disse que era artista plástica e que tinha estudado algum tempo na Inglaterra e na Itália.Ecco!!!Bela coincidência.Já tentei fugir dessa Itália por várias vezes,mas desisti...impossível,ela impreguina na gente de uma maneira que não tem como escapar.
Pois Myriam me falou um pouco sobre seu país, sobre a capital Caracas,onde mora e sobre o seu presidente,o polêmico Hugo Chavez.Me lembro que quando morava na Itália, a Venezuela era meta turística de todo mundo.Lugar bonito e exótico,sul américa...Mas muita gente tava desistindo dos pacotes pois tinha muita história de confusão política e violência no pais.
Myriam reclamou de Hugo Chavez...na verdade,ela me disse que acha ele louco,mas um louco que consegue manipular a população e mantê-la ao seu favor.
Ela me explicou sobre a escassez de gêneros alimentares que o país enfrenta.Encontrar leite,por exemplo, significa rodar praticamente TODOS os supermercados da cidade.
Tem muita especulação sobre isso. O governo culpa os empresários que escondem seus estoques para vendê-los no mercado negro a preços exorbitantes.Os economistas dizem que houve um aumento na renda da população e que o dinheiro está circulando,mas os empresários têm medo de investir.
A indústria diz que a crise no abastecimento vem do ajuste dos preços da cesta básica pelo governo, que torna o mercado produtor pouco rentável.
Bom....não sei...não entendo disso. Sei que a pobre da Myriam sofre quando vai fazer compras.
Ela me disse também que Caracas é caotica,mas que perto da sua casa tem um parque lindo em que ela leva seus dois cachorros todos os domingos para passear e aproveita para meditar um pouco. Alma de artista é assim,inquieta...precisa de momentos de paz,de luz e de introspecção pra se acalmar.
Pecado nossa conversa foi interrompida pelo avassalador efeito do comprimido...ficaria horas lhe perguntando sobre a Venezuela.Ficaria horas lhe perguntando sobre o que ela conhece do Brasil,quais as impressões que estava tendo e por que a paixão pela língua.
A capital federal chegou rapidinho pela janela do bus...Sol,calor,secura de cerrado.Eu tentava imaginar o que a Myriam esperava de Brasília,o que acharia das loucuras de JK,das curvas geniais de Niemeyer,do famoso plano piloto de Lúcio Costa,da imensidão do céu azul e das nuvens loucas da capital.
Trocamos email,contatos e assim que cheguei em Brasília,abri o google e lá estava ela: Myriam Alamo, esculturas espetaculares. Criaçães carregadas de expressões livres da natureza que nos toca com sua pluralidade e desenhos em que explora a figura humana e mostra as partes do mundo que visitou...Gostaria muito de ver seus trabalhos sobre a viagem ao Brasil.
Gostaria mesmo que ela fizesse uma exposição no Brasil.Fantástica,bela e marcante.Que delícia ir de ônibus pra Brasília...que delícia apostar na coletividade deste mundo de gente tão diferente.
Para conhecer o trabalho da Myriam
http://myriamalamocupello.blogspot.com/
http://myriamalamo.blogspot.com/

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A Itália segundo Oliviero Toscani

Fotos by Google


Oliviero Toscani. Quem nunca escutou este nome? Toda uma geração cresceu em meio às polêmicas que fortaleceram o nome Toscani. O fotógrafo e publicitário milanês sem dúvidas, marcou época nos anos 90 com as memoráveis campanhas para a Benetton, abordando temas como o racismo,a pena de morte,a Aids(quem não se lembra da chocante foto do aidético no leito de morte,com a família a seu redor),padres beijando freiras,homossexualismo,pobres e ricos,anorexia(esta para a Nolita na Semana de Moda de Milão, ano passado)e outros tantos assuntos que jamais alguém ousou tocar.
Toscani se define fotógrafo e não publicitário,já que para ele, a publicidade vende mentiras e aliena.Me lembro que li um livro seu quando estava na faculdade, "A publicidade é um cadáver que nos sorri", onde ele falava que as campanhas feitas para a Benetton eram o maior exemplo de que a publicidade pode ser feita de forma inteligente,contendo mensagens reais, com responsabilidade social e com isso,aumentar as vendas.
Hoje conversei com uma jornalista sobre sua experiência de viagem à Itália.Ela me disse que conhecer o país era seu grande sonho,mas que saiu de lá desapontada com alguns percalços de viagem, como o comportamento do italiano e a inevitável desilusão quanto à imagem do homem moreno,alto e de olhos azuis.
Perplexa. Foi assim que ela ficou vendo os gestos,os gritos,a impaciência e a grosseria de vendedores,garçons,atendentes,da própria gente que caminhava pela rua.
Dia desses, eu passei em frente à livraria Leitura da Cristovão Colombo e na porta tinham muitos livros em oferta. Um me chamou muito a atenção, "Vivendo la Dolce Vita",de um escritor que não conhecia. Na contra capa,estas eram as palavras: "Uma tarde feliz e descontraída, junto dos amigos, da família ou do companheiro, desfrutando uma refeição boa e nutritiva, mostrando uma atitude despreocupada e positiva. Não é preciso estar de férias nem viajar a Itália para transformar esse quadro ideal na realidade do seu dia-a-dia. Basta acompanhar as lições que este manual de auto-ajuda apresenta, inpirado no estilo de vida de nossos amigos italianos, para encontrar o bem estar-estar, a serenidade e a alegria capazes de mudar sua vida."....Inacreditável!Um manual de auto-ajuda ensinando o caminho da serenidade inspirado no estilo de vida dos italianos?? Me desculpe, senhor Raellen D Mautner,mas o senhor tem certeza que esteve mesmo na Itália?Pois pra mim,parece que o senhor pegou a conexão errada e foi parar na Ìndia,onde teve um encontro iluminado com Buda,perdeu os sentidos e acordou achando que estava na terra da Pizza.
Pois minha gente,eu sonhei com a Itália por toda minha vida.Com os italianos então...Lindos príncipes românticos. Altos,morenos,cabelos lisos,quase tocando o ombro.Se o colega Mautner foi parar na Índia,achando que aquilo era a Itália,eu fui parar na Itália e achei que aquilo era uma fabrica genética de produzir meninos baixinhos,carecas,machistas, dependentes e mal educados.(Opa,não todos...vamos dar um desconto pra Seleção de Futebol,né?...não só,tem MUITA gente bacana também).A gritaria, a agitação, a impaciência correspondem à Dolce Vita dos italianos.Subir num ônibus ou trem pode tornar-se a maior aventura da sua vida,com direito a arranhões,atropelamentos e gracinhas de homens imbecis. Pedir uma informação pode ser uma experiência sensorial,já que muitos fazem-se de surdos,cegos ou mudos...isso quando não te mandam na direção contrária.Perguntar como vai a vida,pode virar um grande incentivo ao suicídio coletivo: ah,sabe como é,mais ou menos,né..tá tudo tão difícil,tanto problema!
Me dei conta que estava me tornando uma típica italiana quando em férias no Brasil,me consultei com um ortopedista muito sincero e direto que quando me perguntou qual é o problema,me interrompeu sem rodeios: ei,calma,fala devagar e pára de gritar, a gente não está na Itália.
Escreveria linhas e linhas sobre o assunto,com milhares de exemplos de comportamentos típicos dos italianos,mas volto a Oliviero Toscani,italiano fora do comum.
Passando o olho na versão online do Corriere della Sera de hoje,o quotidiano mais lido na Itália,vi uma entrevista fantástica do Toscani com o título: "Italiani brutta gente", ou seja "Italianos,gente feia". Toscani tem um novo projeto.Resolveu sair por aí fotografando seus compatriotas.O objetivo,descobrir as diferenças somáticas,os defeitos e as maravilhas dos italianos.O fotógrafo nomeou o projeto de Razza umana/Italia(Raça Humana/Itália). Coincidência ou não, no mesmo 14 de julho de 70 anos atrás,os fascistas publicavam o Manifesto della Razza ,onde deixavam claras suas idéias sobre uma raça pura italiana,formada em sua maioria por arianos e sobre a existência de raças inferiores.
Para Toscani,os italianos são essencialmente feios,desmazelados e ignorantes. Segundo ele, a historia do pais ser a origem da moda foi é um estúpido estereótipo criado e que, na realidade, eles são obesos e pouco elegantes.Em uma outra parte da entrevista,Toscani diz que no país o que se vê é um conformismo que faz mal ao coração, que a Itália é um pais feito de pessoas dependentes,apáticas,velhas que não acreditam,não apostam e não fazem nada para que as coisas mudem.
E não diferente do que acontece por aqui,Toscani culpa a TV, dizendo que o Big Brother conseguiu destruir nossas almas. "Roupas iguais, comportamentos idênticos, as mesmas idiotices",reclama.
Eu não sei o que esta acontecendo.Vivi ainda muito pouco para tirar grandes conclusões, mas tenho o orgulho e privilégio de me sentir consciente de que tem muita,mas muita coisa errada por aí.Tenho amigos de todas as idades,entre eles, um senhor de 62 anos que compartilha das mesmas opiniões de Toscani.Certa vez,ele me confessou que sente que a Itália não tem o mesmo brilho,o mesmo orgulho de terra reerguida após a guerra e que o que reina é uma apatia geral entre jovens que não querem mudar o futuro e velhos que insistem em se apegar ao passado.
Eu tenho um caso de amor com a Itália,no meu sangue tem elementos daquela Itália sobre a qual fala o senhor meu amigo,dos tempos em que as pessoas lutavam para sobreviver. A coragem de mudar, de construir e de se reinventar dos meus antepassados não corresponde ao espírito italiano que eu conheci.
Toscani tem razão,meu amigo tem razão. A 'bella' Itália,minha segunda casa que eu tanto amo é um país em crise, numa crise de identidade pela qual nós, brasileiros, passamos todos os dias ao copiar modelos vindos de fora.
As raízes são as únicas coisas que nos pertecem genuinamente e que devem ser usadas em nosso favor. Espero que o Toscani descubra coisas boas no DNA italiano,afinal, o que é a imagem diante de tudo o que um ser humano pode ter dentro de si?

sábado, 12 de julho de 2008

Sobre heranças obrigatórias

Foto by Google

Dizer que eu não concordo em viver num mundo de extremos como o qual a gente está vivendo parece repetitivo.Mas o que eu posso fazer se não consigo fechar meus olhos? Aliás,agradeço por mantê-los bem abertos. Seria muito mais fácil vendá-los ou observar uma cena triste e arrancá-la do meu cérebro me consolando: não é culpa tua!
Todos os sábados,meu pai leva a minha sobrinha para a feira da cidade.Esta feira existe desde que eu era pequenininha.Os produtores rurais da região enchem suas kombis de frutas,verduras,legumes,queijos,doces,pães,ovos, galos e galinhas. Tem até uma barraquinha de coisas usadas,brinquedos velhos,revistas,espelhinhos, relógios, objetos estranhos. E um senhor vendendo 24 agulhas por um real.Mas quem é que precisa de tanta agulha,minha gente? Entre o povo que passa barganhando, os cachorros sarnentos que procuram os restos e o povo da cidade (entre ele,alguns políticos já em fase de campanha), a pequena se diverte. Quando vê um galo cantando e a galinha batendo asa,lembra logo dos que tem em casa, presente do avô coruja e privilégio para os poucos que ainda podem ter um quintal em casa,para inveja e desespero dos vizinhos reclamões.
A pequena tem um ano e nove meses,é muito esperta,simpática,faladeira e adora o passeio da feira. O avô é um exibido declarado. Pede à moça que coloque uma roupa bem bonita na menina no sábado.De xuquinha ou de chapéu e com um cachecol amarrado no pescoço, ela chega toda serelepe,pede a mão,pede colo e quando tá afim de fazer uma graça,sobe na cagunda e vai de cavalinho.
Hoje eu ajudei a escolher a roupa.Casaco multicolorido,todo cheio de flores,calça vermelha boca de sino,tênis rosa e cachecol de time de futebol italiano. Era a princesinha da feira.
Ela chega e não sabe pra onde olha de tanta coisa colorida, tanta gente passando, tanto cheiro diferente, fumaça de churrasquinho,au au fedorento e sujo, senhorzinhos da roça de chapéu e cigarro de palha e mulheres de tranças enormes e narizes tortos.
Houve um tempo em que eu questionava muito os modelos que nos são impostos desde que a gente nasce. Uma vez, consultei um especialista sobre nós,mulheres e sobre o instinto materno.Ele me disse que segundo os grandes estudiosos da psiquiatria, todas nós nascemos com ele,umas o desenvolvem de forma mais intensa,outras o deixam um pouco de lado em busca de outros interesses. Mas eu sei que tudo é herança e obra do ambiente que a gente vive. Ora bolas, se eu nasci é porque meu bisavô nasceu,conheceu a bis,fizeram meu nonno,que fez minha mae,que me fez com a ajuda de um outro tronco oriundo do mesmo processo.O modelo é esse.
O homem trabalha e a mulher nana o nenê. Inevitável. Já pensava muito nesses modelos e na força deles através dos anos quando eu vi minha sobrinha com menos de um ano de idade, pegando uma bonequinha e fazendo ela nanar. Simbolicamente isto representou pra mim o início de todos estes questionamentos que me acompanhavam já de algum tempo. O instinto materno dela já estava sendo aguçado pelo modelo do nosso mundo e isso estava acontecendo com um pinguinho de gente.
Pois agora volto à feira. A gente tava de mãos dadas,ela, muito mais à vontade que eu.Eu estava um pouco desorientada com tanta gente, tanta coisa e preocupada com os cachorros sarnentos que poderiam chegar perto da princesinha ou de algum grandão distraído que não olhasse pra baixo e passasse por cima dela. Minha preocupação não me deixou perceber que entre uma barraca e outra, tinha um mendigo.Escutei do meu pai: Espera. Parei,e ele tirou do bolso algumas moedinhas,entregou pra pequena, ela me puxou, dando dois passos pra trás. Olhei pro chão e vi o mendigo. Sujo, sem as duas pernas, balançando uma latinha. Olhei minha princesinha, vestida de roupa colorida,linda,loirinha de olho azul, cachecol do time de futebol italiano que colocava as moedinhas dentro da latinha que o mendigo balançava.
Meu olho, que dois segundos atrás se distraía em meio ao caos, registrou a cena incrédulo, perplexo, indeciso sobre o que pensar, sobre as conclusões a retirar.
A mesma menininha que aprendia inconscientemente seu papel no mundo a fazer a nana do bebezinho de plástico,era a mesma que aprendia a fazer algo que também será parte do seu mundo, tirar suas moedas do bolso e piedosamente participar da degradação do ser humano.
Lembrei agora, da velha da esmola,uma senhora de cabelo branco,que vinha sempre de camisa de mangas curtas e saia longa. Batia a campainha na hora do almoço. Ela não falava nada, não pedia nada. Batia a campainha, olhava pra cima com seus olhões azuis. A gente corria pra avisar: Mãe, é a véia da esmola(nunca soubemos seu nome). Da sacada, a gente jogava umas moedinhas pra ela (até a minha mãe inventar uma gambiarra feita de corda de varal e cestinha de plástico de guardar shampoo no banheiro)...ela dizia: Deus te ajude. Se virava e batia o portão. Às vezes o deixava aberto como quem diz:Ok,já subo pra almoçar com vocês, deixa eu só chamar meu marido ali na esquina, rapidinho.
Certamente, a minha sobrinha não entendeu o gesto que fez. Certamente, o avô ensinou, mas ela ainda é muito pequena e muito inocente pra entender a complexidade deste mundo tão louco.
E se ela fosse um pouquinho maior,sinceramente,não sei o que lhe diria se ela me perguntasse: Tia,quem é esse moço, por que ele está assim? Não sei de quem será esta missão. Tem coisas que não têm muita explicação...é como se o mundo nos acolhesse sem nos deixar a chance de dizer não.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Carta a Idi Amin

Foto by Isabela

Querido Idi Amin,

Quando eu era pequena, te vi pela primeira vez e senti um medo tremendo. Não entendia bem o seu nome e, quando cresci e soube quem foi Idi Amin Dada, achei uma tremenda injustiça te chamarem assim. Preferia algo como Tião Macalé ou Buiú.
Sempre escutei falar seu nome, que você era único na América do Sul,comia aos montes e pesava uns 200kg. A sua cara de mau, que me assustou quando eu era criança, com certeza sobreviveu na imaginação das milhares de crianças que um dia te conheceram.
Idi, você já tem 35 anos. Passaram-se 33 anos desde que você, bebê, virou mineiro, belo-horizontino, cidadão do mundo. Às vezes fico pensando...O que é que você fez durante todos estes anos, além das caretas,pulos e malabarismos que assustavam as crianças pequenas, aguçavam a curiosidade daquelas maiores e faziam divertir pais, mestres e guias de excursão. A sua solidão,Idi, durante todos estes anos, tocou o coração de tanta gente, ao mesmo tempo que serviu de consolo a moças e rapazes desesperados, em busca do grande amor. Pois se o mais imponente (não,não vou te chamar de bonito porque você sabe que você não é,me perdoe), importante e forte não conseguiu ainda encontrar o amor, existe esperança no mundo.
Idi,meu caro, quanta polêmica você gerou,sem nem mesmo saber o porquê,quando quiseram transformar sua África artificial em mansão. Você ganhou mais espaço pra ser apreciado com a projeção de um túnel,cachoeira, gruta, novas espécies vegetais pra se sentir mais à vontade e ainda recebeu críticas e fúria pelos 200 mil gastos com seu novo lar.Deve ter sido um daqueles arquitetos bem chiques que ajudaram no projeto,né?
Mas tudo isso, Idi, foi mais um incentivo, mais uma esperança, um cantinho a mais na sua solitária morada para abrigar uma possível companheira,que talvez lhe tirasse da cara essa expressão brava e mau humorada que você tem.
Eu entendo, Idi, que desde cedo você conheceu o sofrimento.A Dadá,que veio com você e seria sua companheira,morreu pequenina,deixando um enorme vazio no seu coração.A esperança veio com a Cleópatra, a Cléo,que chegou de São Paulo(e não do Egito) pra te trazer um tiquim mais de alegria.Tudo bem, ela era mais velha que você, mas era uma coroa bem enxuta.Pena que estava doente e a convivência de vocês durou tão pouco. Em duas semanas num deu nem tempo de saber mais detalhes sobre a vida dela,né? Nem pegar na mão,nem uma bitoca...Uffa!!!
Idi, desculpa a indiscrição,mas então você é virgem,né? Ah,não se preocupe. Outro dia, soube da história de um rapaz que se casou aos 33 anos e que também era,ele quis se guardar para a esposa. Este tipo de coisa não acontece mais.Mas eu acho que cada um faz sua escolha ou vive a circunstância. O importante é não se abalar.
Aliás,Idi, depois de alguns anos, eu voltei pra te ver.É que o tempo passou rápido demais e agora chegou a vez dos nossos filhos e sobrinhos te conhecerem.A Mari,minha sobrinha, não teve tanto medo de você como eu e a mãe dela tivemos anos atrás.Acho que ela até gostou das suas estripulias e da agitação dos teus milhares de admiradores.
Sabe,Idi, eu não sei se você é um daqueles solteirões alla Carrie Bradshaw,desesperado para casar,ter filhos e constituir família.Sei que a pressão é forte.Procuram pelo mundo inteiro pretendentes para você.Dizem que tão vindo duas inglesas por aí...Também,pudera.Um partidão,fortão,saudável,adorado por crianças e adultos e ainda por cima,dono da maior mansão da Pampulha...Vixi!!Eu até imagino ela chegando,batom vermelho,lenço de onça amarrado na cabeça,bem africana e piscando o olho pra você.Já pensou nisso?Vai ver eu acabei de advinhar seu sonho de todos os dias.
O que eu queria te dizer,Idi,é que eu acredito no amor.Naquele que soma,distribui,semeia e colhe. Eu acho,Idi,que você é um solteirão cobiçado e que,por mais que o mercado esteja escasso de macacas de nível (a não ser aquelas de auditório),sua hora também vai chegar.
E sabe de uma coisa,Idi...se a pretendente demorar ou nunca chegar, ou você não se simpatizar com as tais da terra da Rainha(o tempo tá ficando curto),eu acho que você vai ter semeado o amor de todo jeito.Você pode ser feio,meio desengonçado, mau humorado,mas eu me lembro bem, da alegria que desperta em crianças e adultos que esperam que você saia da sua grutinha e apareça fazendo suas macaquices.De repente, um grita: Ele apareceu!!!E é uma correria danada de gente querendo te ver.Quer amor maior que esse,Idi?
Agora,se por acaso você encontrar seu amor e virar papai,ensine ao seu filho,Idi,a ser como você,passe o bastão e a responsabilidade de fazer as novas gerações sorrirem e colarem os rostinhos curiosos e afoitos no grande vidro que separa a sua mansão africana do imaginário de cada um de nós.

Satisfações,

Isabela

Gringas no Samba



Na capoeira de sexta-feira do Mc Donald's da Savassi,as gringas cairam no samba

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Seja bem vindo, Bernardo


Eu e Babau,há muito tempo atrás

Quando eu nasci,devia tá um frio danado...pleno inverno.
Hoje,3 de julho, é dia de BERNARDO. Com muita alegria e emoção recebi a noticia do seu nascimento. Não sei se o Bernardinho já percebeu que a cidade onde ele nasceu, nessa época do ano faz frio. Imagino que ele deve tá grudadinho no peito da mãe dele,aquele lorão lindo de 1,80m de altura,desengonçado,engraçado,carinhoso,amoroso e amigo.Bráulia,a Babau deve tá babando na cria. Se ela já babava na Claires,a gata,imagina no Bernardo,o filho!!
O que o Bernardo espera do mundo, o que o mundo vai ser pro Bernardo?Sei que quando ele sair dali,do berçário do hospital e cair no mundo,ele vai tremer de frio.Quem mandou nascer em julho?Sei,que o Bernardo,quando tiver grande vai pedir pra mãe dele: Mãe,me conta do dia que eu nasci..Sei, que quando o Bernardo crescer,se existir um novo programa nos moldes da porta da esperança,ele vai se emocionar(ele é macho,mas vai se emocionar)Sei, que quando o Bernardo crescer e arrumar a primeira namorada,ele não vai vacilar e vai sim se declarar...tomara que a mamãe Babau aprove o namoro.Sei, que quando o Bernardo crescer e for escolher sua profissão,ele vai ouvir a voz do coração,vai escutar sua vocação. Sei, que quando o Bernardo tiver só um tiquim maior,ele vai grudar nos cabelos da mãe,nas orelhas do pai e ficar quietinho,sentindo o calor,o carinho e o amor dos dois.
Sei tudo isso e muito mais porque o Bernardo teve a benção de nascer sob o signo de câncer, o mesmo de quem vos fala,o mesmo de quem chora,se emociona e cai em lágrimas por qualquer bobagem. Mas minhas lágrimas,minha emoção de hoje vão pra você,Bernardo.São lágrimas de felicidade, são lágrimas de uma tia que acaba de ganhar um sobrinho e que planeja que sua vida seja repleta de felicidades,que você seja um menino bom,inteligente,esperto,honesto e que seu coração seja feito tal qual o da tua mãe.Que você seja forte como ela,lindo como ela,bom como ela.
Bem vindo ao mundo,Bernardo. Que Deus te abençõe.
Com muito carinho,

Tia Bela

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Reflexões de 2 de Julho


O que é que pode acontecer no giro de um ano da vida de uma pessoa?Talvez,pro senhor do primeiro andar, não tenha mudado tanta coisa...Mentira,ontem sentei do lado dele no restaurante da esquina e ele me disse que vai mudar de apartamento...Muito morro,minha filha,muito morro.
Nos quatro anos em que morei na Itália, não consigo entender ainda o que eu estava procurando.Um refúgio,novos amigos,novas oportunidades,outra língua,um amor,outro tipo de paladar,pizza de Napoli,mortadela de Bologna,presunto de Parma,a possibilidade de sentir a mudança das estações que eu tanto gosto,crescer,aprender,viajar,viver.Talvez eu não tivesse em busca de nada em específico.Fui,gostei e fiquei.Vim,vi,venci.Na própria terra em que Julio Cesar proclamou a célebre frase.
Quando eu achei que tinha vencido,ou naquela altura do campeonato,perdido,ou sei lá, resolvi que algo devia mudar.Após alguns bons meses de dilema e sofrimento,com o coração dividido entre o Brasil, onde eu nasci e a Itália, que tanto amei,me dei um ultimatum.
O dia era esse, 2 de julho de 2007,última chance...
Foi meu primeiro aniversário feliz,na companhia de amigos,na mesa de um restaurante desde que tinha deixado o Brasil.Cheguei um pouco atrasada e,ainda de pé,soltei a bomba: Gente,acabei de pedir demissão.Em breve, volto pro Brasil.
Alguns chocados,outros riam duvidando de mim...e outros ainda pensando num lugar novo pra eu trabalhar.
Me lembro que eu estava muito feliz.Feliz pela companhia dos amigos,pelo carinho de todos eles.Me lembro como eu estava vestida.Camista branca,jeans rasgado Dolce&Gabbana,sandália salto 9,vermelha em verniz também Dolce,minha extravâgancia consumista da época.Desde junho, tinha começado a me presentear:viagem de férias a Ibiza e um antigo sonho de consumo realizado,um bauzinho Louis Vuitton original,onde mandei gravar minhas iniciais.
A vida na Itália durou ainda um pouco mais...de julho a setembro tive muito tempo pra rir,pra chorar,pra ser enganada e pra ter ainda muita decepção...e ainda,a insegurança de estar fazendo a coisa certa ou não.
Posso dizer que o dia precedente ao meu retorno,foi a ocasião em que eu mais chorei em toda minha vida.Acordei com lágrimas nos olhos e cada passo que dava pelas ruas da cidade,parecia que um pedaço de mim ia embora,doía,doía mesmo...verdade,como se um pedaço do meu corpo se destacasse e caísse ali no chão.
Já esperava por isso.
2 de julho,2008,Belo Horizonte, Brasil...acho que no giro de um ano já posso fazer um pequeno balanço da minha decisão. Sim,foi difícil,mas acertada.O 2 de julho de hoje não tem restaurante,não tem amigos,não tem o verão pulsante da cidade e o dia claro até tarde. Não tem as flores que a Lu me deu(mas tem as do Beto),não tem o bolo de chocolate surpresa,não tem os maridos das amigas me carregando no colo e falando bobagem,não tem tanto presente,nem tanto abraço,tampouco vinho,limoncello e caffè. O sabor desta vez é outro, tem gosto de serenidade, com a inquietação de sempre,com os questionamentos de sempre,mas com a tranqüilidade que jamais existiu.
O 2 de julho de hoje tem também um pouco de solidão,mas toda solidão tem um pouco de poesia,todo canceriano tem um bom tanto de sensibilidade e nostalgia.
Aqueles que hoje me chamaram de guerreira, ao telefone, são os que verdadeiramente me conhecem, são os que realmente contaram ao longo destes anos.Meu pai costumava dizer que quando eu nasci,o médico que era seu querido amigo e que me deixou com um grande nó na garganta quando se foi,no início deste ano,disse:2 de julho,dia da Revolução Baiana. Nunca me senti revolucionária,nunca quis mudar o mundo.A única coisa que eu quero revolucionar sou eu mesma,todas as vozes que dentro de mim às vezes brigam,às vezes fazem às pazes,às vezes se calam.Tudo o que eu quero é poder ser assim,tudo o que sou.

Obrigada, Renata,pela belissima homenagem que me fez.Seus olhos conseguem ir além,imagine todo o resto...

Personagens de BH

Foto by Isabela

Este é o senhor Pedro, que ficou tímido com meu pedido de fazer uma foto sua.Ele trabalha no Sacolão da Economia,próximo ao Mercado Central.Tendo um forte concorrente na esquina da frente,a função do senhor Pedro é atrair a clientela, anunciando as ofertas.Hoje era dia de banana,laranja serra d'água,mexerica pokan e do maço de brócolis.

Primeiras palavras do meu dia

"Sorte é quando a compêtencia encontra a oportunidade"

Esta foi a primeira frase que escutei hoje,dia em que completo 27 anos