domingo, 5 de abril de 2009

Esperando as flores

Imagem Google

Não aguento mais viver com ele, só estou fazendo esse esforço pra dividir o aluguel, até encontrar uma casa nova pra morar, me disse uma amiga.
Eu estava junto quando eles se conheceram. Ele passava em frente ao trabalho dela todos os dias, mas morria de vergonha de entrar e se apresentar. Era alto, bonito, bem vestido, articulado, tinha estudado ciências políticas.
Ela estava saindo de mais uma confusão amorosa com seus homens mais velhos, estabelecidos na vida, com casa em bairro nobre, carro do ano e viagens mensais ao exterior. Quando ela entrava numa dessas, eu sempre dizia... Mmmm...45 anos, bonito, rico e solteiro...se prestasse não estava sozinho. Ela dizia: ai, ele é um amor, abre a porta do carro pra mim, me dá flores e me leva pra jantar pelo menos uma vez por semana. Mas depois do primeiro mês, ela não conseguia entender a cabeça deles, sempre em crise com o tempo que tinha passado veloz, as lembranças que não os deixavam livres, a culpa por ter deixado para trás mulheres extraordinárias.
E enquanto o blá,blá,blá continuava ela se sentia uma psicóloga ninfeta, sentada pacientemente com a cabeça de seus homens no colo, escutando histórias das quais não fazia parte.
Pois o dia que ela conheceu este último, tudo mudou. Ele tinha 26 anos, era mais novo que ela, tinha cara de bom menino, idéias revolucionárias sobre a vida, a política, a economia. Acreditava que o mundo seria salvo através da consciência de cada um, mas não dispensava saídas noturnas nos bares da moda, nem as camisetas grifadas e um blazer de lã.
Em dois meses ele se mudou pra casa dela. Não tinha arrependimentos, traumas, ciúmes, inseguranças. Podiam ficar horas conversando sobre suas diferenças, seus sonhos e suas experiências. Viveram assim por 2 anos até que um dia ela não suportou que ele não abrisse a porta do carro e nem elogiasse a comida que tinha feito pro jantar. Reclamou da conta que tinha sempre que dividir, de suas queixas que ela estava fora de forma e já não era tão linda quanto antes.
Ofendido, ele pegou o pijama e foi dormir no porão, onde ela tinha montado um quarto de hóspedes decorado com quadros que ela mesmo pintava.
No dia seguinte ela ligou para Francesco, o primeiro namorado coroa que ela teve. Na época ela tinha 17 e ele 45. Francesco continuava solteiro, jogando polo, tocando a vinícola e o restaurante e fazendo viagens de negócio pelo mundo. Combinaram de se encontrar aquela noite.
Ela vestiu uma blusa colada vermelha, uma calça cigarrete de cetim preta, salto alto, maquiagem. Ele passou na porta de sua casa com um carro antigo da coleção da família. Desceu, abriu a porta e lhe deu um beijo no rosto. Do jeito que ela gostava. Falaram sobre seus amores, sua histórias e, enquanto a conversa fluia, ela teve a sensação de estar escutando as mesmas coisas de 10 anos atrás.
Ela pensou em seu garoto que dormia no porão, no quanto ele era doce quando falava do sol. Disse que ia ao banheiro. Lá fora chovia. Tirou o sapato de salto e correu, correu pra bem longe. Já cansada, diminuiu o ritmo dos passos. Escutou uma música que vinha de um bar estranho e resolveu parar. Era uma pizzaria de um velho senhor. Pediu 2 pedaços de pizza pra levar consigo. Chegou em casa ensopada, maquiagem borrada e a flor da pano que tinha pregada na camiseta estava murcha como uma flor de verdade. Abriu a porta do porão e assim, frágil como uma rosa encarou envergonhada o jovem amor: Trouxe uma pizza,hoje não tive tempo de te preparar o jantar. Ele sorriu e respondeu: Tudo bem, eu me esqueci de dizer o quanto você está linda.

Um comentário:

Daniel disse...

Enquanto lia seu texto, lembrei de dois ditos populares que expressão bem a moral da história:

"Quem tudo quer, nada têm".

"Só se dar valor, quando se perde".

Bjus e boa semana.

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