quarta-feira, 17 de abril de 2019

Madonna col Bambino no trem


Me sentindo privilegiada peguei o trem hoje pela manhã para ver de perto o Homem Vitruviano. São 500 anos que Leonardo Da Vinci deixou este mundo e 2019 é um ano de grandes manifestações artísticas em homenagem ao gênio. Esta não foi a primeira mostra que visitei. Há pouco menos de um mês, em Florença, tive a oportunidade de ver as maravilhas criadas pelo Verrocchio, mestre de Leonardo e tive um momento de síndrome de Sthendal quando parei em frente à uma peça de argila realizada por um jovem Leonardo em 1472. 

As "Madonnas col Bambino" começaram a ter um outro significado pra mim depois que me tornei mãe. Os sentidos se aguçaram e as emoções retidas por anos aos poucos vão se derretendo e se amalgamando pelo meu corpo como os vasos de Murano que eu vejo sendo construídos.


A Madonna sorria com seu nariz leonardesco afunilado. Era um sorriso despretensioso, natural, jocoso. Não era sorriso de obra de arte, era sorriso de gente. Porque o bambino sorria, na verdade ele ria, como quando a criança dá aquelas risadinhas gostosas, com a boca aberta, a língua de fora e a saliva que seca e deixa um odor de céu.

Esta manhã eu entrei no trem e me sentei na primeira fileira, na frente de uma mulher abraçada à sua filha. Elas tinham duas malas que ocupavam o vão entre uma fileira e outra. Como qualquer personagem fora da sua história, ela teve a reação daquelas pessoas que quase se desculpam por existir e ocupar espaço no mundo. Tocou as malas e pediu desculpas,puxando-as pra perto de si. Eu sorri e respondi que não me incomodava e pensei em quantas vezes sou eu que desempenho este papel e ajo assim.


Olhei pro trench que ela estava usando e pensei no quanto ele ficaria tão mais bonito em mim. Apreciei o fato dela se vestir com capricho. Tentei decifrar sua figura coberta com um lenço na cabeça, percebi que o cabelo dela era raspado com máquina , que ela tinha muitas rugas, um olhar cansado e certamente tinha a minha idade, senão mais jovem.


A filha via alguma coisa no celular, deitada no colo da mãe, agarrada nela tal qual o bambino com a madonna. Ela olhava pela janela, um olhar perdido, mas concentrado . Eu não queria esquecer aquela imagem e a fotografei. Sem que ela percebesse. A menina estava vestida com todo capricho. Pensei na minha mãe e na primeira vez que fizemos uma viagem de avião. Brasília era muito longe e na época existia a Vasp. 

Eu lembro do meu pai comprando as passagens na agência de viagem. Era tudo bonitinho, um carnê com data, horário com a folha de estêncil em baixo para copiar as várias vias. Me lembro de uma sobra de tecido florido que a minha mãe levou na Daura costureira para fazer nossas roupas de viajar de avião. Saia plissada e colete. A sobra do tecido florido se juntou a um tecido branco e virou roupa double face. Tão chique!

Ela então levou as mãos até as malas e ficou batendo os dois dedos assim como quando a gente está impaciente com alguma coisa. O movimento dos nervos e das veias me lembrou para onde eu estava indo: ver uma mostra de Leonardo, talvez o maior obcecado por anatomia da história. Tam tam tam, os dedos se moviam como uma máquina perfeita. 

As proporções, o círculo e o quadrado, as duas geometrias perfeitas segundo Platão, assim como eu tinha lido antes de escrever meu texto sobre o Homem Vitruviano. O céu e a terra. Ela me perguntou onde estávamos: quase em Mestre.  Levantou e pediu à menina que vestisse a jaqueta. Ela recusou aos olhos da mãe cansada. Eu intervi e usei a estratégia que o meu marido usa com a minha filha: eu também estou de casaco, está frio, está vendo: todo mundo está de casaco. Ela aceitou e a mãe cansada me sorriu. 

Como aqueles que temem ocupar espaço no mundo ela correu pra porta, pra não atrapalhar ninguém. Uma moça ofereceu ajuda. Ela aceitou. Eu olho a foto dela e pra mim parece uma obra de arte. Uma Madonna col Bambino moderna, com a luz do sol que entra pela janela do trem. Ela que olha pra fora, a menina em seu colo, um amor que transcende.                                                                                 

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Chicken Chique

Imagem Yatzer

Quando eu era pequena e ia na roça, adorava ir pro poleiro ver se as galinhas tinham botado ovo. Minha tia tinha um galinheiro, minha vó tinha um galinheiro, de modo que, na infância, vi muita galinha indo pra panela. Ela lá, mortinha com o papo ainda cheio de farelo.
Enfim, parece que os poleiros ficaram mais "mudernos". O designer holandês Frederik Roijé repaginou totalmente o objeto em questão, e apresentou-o no Salão de Milão, no mês passado.
Roijé criou o galinheiro com a intenção de despertar nas pessoas o contato com a natureza. No nosso atual cenário de alto volume de tecnologia e informação, nossas raízes têm sido deixadas de lado. Na ideia do designer, o poleiro pode muito bem ser colocado em ambientes urbanos, para que o homem relembre do papel da natureza na sua vida. Gostei!

sábado, 24 de abril de 2010

Nós, mulheres...

Imagem Google

...inocentes desde os tempos de Cabiria...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cadeira pavão

Imagem AT Casa

É tempo de Salão Internacional de Milão. As maravilhas do design e da arquitetura são de encher os olhos.
A poltrona Peacock, do israelense Dror Benshetrit para a Cappellini, parece ser daquelas que além do design modernoso e bacana, é ainda funcional e gostosa de sentar. Não dá vontade de se jogar?
A poltrona, que lembra um pavão (daí o nome), é feita com um painel duplo de feltro, de um lado azul e do outro cinza. O material leve permite o conforto e a funcionalidade. Já o design se mostra imponente como o próprio pavão quando quer ser notado. O preço não fica para trás. A Peacock custa 3700 euros.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Cannes

Imagem Folha de São Paulo


O cartaz de divulgação do 63º Festival de Cannes com a Juliette Binoche é lindo!

sábado, 27 de março de 2010

Ruivos em extinção??!!

Imagem Google


Há algum tempo, li em uma revista que os dias dos ruivos estavam contados. Destinados a breve extinção,os indivíduos de cabelos vermelhos vinham representados, na reportagem, pelo príncipe Harry. Como nossa tendência é dizer amém para as pesquisas científicas Oxfordianas, Harvardianas, Cambridgeianas ou National Geographicanas que escutamos por aí, acreditei na teoria.
Curiosamente, desde que li a tal reportagem, percebi que não via mais ruivos por aí. Parece que nesse período coloquei um óculos antirruivos na cara e passei a ver cabelos vermelhos somente nas caixinhas de tinta da L'Oreal e da Garnier. Não que tenha algo contra os ruivos, muito pelo contrário. A pele alva, as sardas e o cabelo cor de fogo, para mim, representam um diferencial interessante.
Eu temia pelos ruivos, imaginava que gradativamente eles desapareceriam. Que os que hoje estão vivos morreriam e que uma nova geração não teria condições de se desenvolver. Que no futuro,lá na frente, as pessoas veriam os ruivos nos livros assim como hoje vemos o homem de neandertal, as múmias e o homem macaco.
Eis que de uns tempos pra cá,os ruivos começaram a aparecer para mim com frequência. Os filhos da vizinha, um cara que eu vi no cinema, uma moça que vi no cursinho. E nos dias que se seguiram, vi ruivos no supermercado, na rua, no parque, na televisão.
Descobri que a tal teoria de que os genes recessivos que doavam o tom vermelho aos cabelos sumiriam não passava de mais um alarmante exagero. Descobri, ainda, que os ruivos estão mais fortes do que nunca. Criaram movimentos, blogs (veja os links abaixo),discussões e até peça de teatro.
Mas a minha descoberta maior foi ver como nós, seres humanos, introjetamos e absorvemos informações e conceitos que passam a ser verdade absoluta. Os ruivos sempre estiveram ali no supermercado, no cinema, nas escolas, nas ruas, nos parques e na televisão. Era eu que não conseguia enxergá-los.

www.osruivos.blogspot.com
www.ruivosmania.blogspot.com

sábado, 21 de novembro de 2009

Duo de descoberta

Imagem Google

Quando o errado é o certo
A gente tira o sapato
E pisa no nosso hemisfério

Quando o certo vira passado
A gente pega o que era o errado
Monta um novo mapa e tenta se manter acordado

Percorre as avenidas internas
Encontra novas janelas
Respira pela pele

Quando o errado mostra o certo
A dor vira progresso