segunda-feira, 26 de maio de 2008

E se você estivesse lá...


Você sabe o que está acontecendo neste exato momento na África do Sul? Provavelmente não. A menos que seja um devorador de jornais diários, daqueles que exploram cada linha,incluindo as pequenas notinhas no canto da página, espaço geralmente dado à questões que envolvam o continente africano.
Muito da violência e dos verdadeiros absurdos cometidos na África, incluindo os grandes genocídios da história, ficam restritos ao cenário de pobreza e miséria que acomete aquele povo.Recentes produções como Hotel Ruanda e Tiros em Ruanda e O Último Rei da Escócia mostram com um imenso atraso o que deveríamos ter visto em tempo real: tragédias e atos de violência que tiraram a vida de tantos e a dignidade dos que ficaram.
O mundo inteiro viu a África viver em um regime de segregação com o apartheid. As imagens de crianças magras,esqueléticas, subnutridas giram o planeta desde que me entendo por gente.
Hoje, fiquei sabendo de mais um grave problema que a África está enfrentando.Mas não porque procurei a tal notinha no canto do jornal,mas porque escutei ao pé do ouvido uma história que uma colega contava à outra com verdadeiro pânico e ansiedade.
Esta menina se chama Michele e seus pais atualmente moram em uma pequena cidade da África do Sul,que agora não me lembro o nome. Eles trabalham em projetos de educação e evangelização da população de vilas e cidades africanas.
Ouvi,da boca de Michele, que ela estava muito precupada com os pais e os dois irmãos que estão por lá. Explico o porquê.
Com o fim do apartheid,em 1991, a África do Sul ficou livre para o trânsito dos países vizinhos e milhões de imigrantes foram para o país em busca de trabalho e melhores condições de vida. Os problemas sociais aumentaram e estas pessoas acabaram sendo responsabilizadas pela alta taxa de desemprego, falta de moradia e aumento excessivo da criminalidade.
Há mais de uma semana,radicais de Johannesburgo e cidades vizinhas iniciaram um movimento xenófobo para expulsar os imigrantes. A violência é a arma principal com vítimas queimadas, espancadas até à morte ou liquidadas à machadadas,como relatou os pais de Michele à filha.
Quem não foi morto,teve seus barracos incendiados e perderam tudo. Os refugiados buscam apoio nas delegacias e igrejas da cidade.
Minha colega Michele me disse que a situação é tão grave que seus irmãos adolescentes são pegos na escola por um carro especial e escoltados até a casa onde vivem. Ela me diz o quanto é desesperador estar tão longe das pessoas que ama, sabendo que a qualquer momento, alguma coisa pode acontecer a seus entes queridos em uma África sangrenta até mesmo para aqueles que estão ali para ajudar.
Desde o início dos conflitos na semana passada até hoje, mais de 40 pessoas morreram e 25 mil procuram refúgio nas delegacias e igrejas.
É lamentável tomar consciência de que a África, que lutou tanto para extinguir o apartheid,vive um processo similar àquele condenado pelo mundo inteiro.É triste imaginar que pessoas como a gente, de carne e osso,que são mães,filhos,amigos morrem em um conflito bárbaro e que quase ninguém faz nada por eles ou nem tomam conhecimento do que está acontecendo.
Dignos são os pais de Michele que em um ato de desprendimento e amor estão prontos para educar e fazer a sua parte para a construção de uma nova consciência.
Dignos são aqueles que conseguem amar, deixando pra trás seus entes queridos e adotando novas vidas, mesmo que isso signifique entrar em uma luta que aparentemente não tem fim.

2 comentários:

Renata Carvalho Rocha Gómez disse...

Passei 15 dias na africa do sul e morro de saudade, amei o povo, a cultura, a comida (aprendi a comer com as mãos), deixei amigos ali e sonho em voltar.
Mas voltar para quem sabe fazer diferença, uma diferença efetiva..
Tenho sonhos grandes, ainda acredito que a humanidade tem jeito, o amor é poderoso para mudar, basta o ser humano estar aberto para receber.
Um beijo enorme

Beto disse...

Hoje acordei beeeem distante, tão distante que o lá ficou muito próximo e não era mais lá, era aqui! Uma distancia tão longe que não tinha diferença entre o sangue azul do africano e o meu, entre o amor de mãe e o amor ao próximo, entre um país, um continente e uma só humanidade. Era tão longe que dava para visualizar tudo no mesmo saco, as nações, as culturas, os sectarismos, a matança por muito dinheiro e por pouco, a inconsciência dos espertos e a ignorância dos excluídos, e por fim, a indiferença de todos nós, .... que sabemos de tudo, mas que não fazemos nada, nada pelo africano segregado, pelo brasileiro escravo, pelo filho do brasileiro na rua, pelo animal no frigorífico, pelos filhotes nas jaulas, pelo nosso Ser e por nossa Terra....antes tivesse me deixado dormir um pouco mais.
Bjos