sexta-feira, 6 de junho de 2008

A roupa e o corpo nú


Morreu Saint Laurent.Como um dia morreremos todos nós.Pai,mãe,vizinho,amigo,filho.A repercussão da morte de uma figura pública é, porém, muito diversa. Saint Laurent era o elo de ligação entre a estética do passado e aquela do presente. Saint Laurent era um ícone,a lembrança viva de toda uma época dedicada à revolução da criatividade no modo de vestir. A referência de um período anárquico e turbulento. Em 71, foi protagonista de um delicioso escândalo quando apareceu nu em uma foto histórica que promoveu seu primeiro perfume.
Tantas foram as frases feitas,deixadas por Saint Laurent, mas a mais bonita delas, eu escutei hoje pela primeira vez: "Nada é mais belo que um corpo nu. As roupas mais belas que uma mulher pode vestir são os braços do homem que ama".
Do que serve uma roupa que me aquece,que me embeleza,que mostra quem eu sou se minha essência revela-se frágil mas intensa quando sinto que ele abraça meu corpo desprotegido... O toque sutil do cashmere,o movimento fresco do chiffon,a segurança da lycra,a transparência da seda transformam-se em sensações banais se minha nudez é coberta quando ele se aproxima. E tudo vira poesia,energia,emoção que não poderiam caber nem mesmo em um suntuoso vestido bordado com fios de ouro.
A artista de Hollywood que pisa o tapete vermelho vestida de Saint Laurent é a mesma que procura em seu íntimo,braços que possam vesti-la. A mulher que calça seus sapatos é a mesma que deseja encontrar quem possa curá-la. A jovem que passeia com a sua bolsa é a mesma que gostaria de preenchê-la de amor.
Eu guardo no meu armário vestidos invisíveis.Não quero vesti-los pois não preciso mais deles. A sensação de estar nua, desprotegida passou. As texturas e cores que me faltavam encontraram-se finalmente numa noite seca e de muito calor onde as roupas já não podiam dizer mais nada sobre mim.
...dedicado a quem me veste com as mais belas roupas

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