segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sonhos em pedaços de pano


Hoje passei por uma verdadeira overdose de noivas e casamentos.Às duas e meia tinha uma entrevista marcada com uma estilista de noivas. Durante a hora e meia em que fiquei aguardando que ela me atendesse,engatei uma conversa animada com a gerente da loja.Fiquei pasma em saber que as noivas que irão se casar em setembro de 2009,ou seja, daqui a um ano e três meses já telefonam para marcar hora pra ver vestido.
É que tudo tem que ser planejado,na mais perfeita ordem, já que em alguns casos,estilistas,costureiras e ajudantes precisam transformar-se em psicólogas e até cirurgiãs plásticas no caso em que a noiva, não agraciada pelas curvas, exija uma bunda postiça acoplada ao vestido.Não estou brincando,acontece.
Entre vestidos de sonhos,saias e caudas de panos que não acabam mais,escondem-se casos mal resolvidos,mulheres histéricas e traumatizadas,inseguras,dependentes e marcadas por histórias que as impulsionaram a jogar-se nos braços de alguém, em busca de um conforto que na maioria das vezes, é inatingível a não ser no íntimo delas mesmas. Não estou falando de todas as noivas,longe de mim!
Digo isso não por despeito, por descrença ou porque sou contra quem veste-se de noiva. Minha mãe casou-se de noiva,ela estava linda e é casada até hoje. Quando eu era pequena,a empregada lá de casa ia casar e eu adorava folhear as revistas de noivas dela e escolher o modelo que eu iria usar no meu casamento.Lembro que ele era marfim.
Lá pelas tantas, eu já não agüentava mais o DVD de clips e as noivas que entravam e saíam em busca de convites para um desfile que acontece semana que vem.E fiquei com um tiquinho de dó da simpática gerente que respondia incessantemente às chamadas das noivas de 2009 que queriam marcar uma hora.
Pois a moça me contou que ali acontece realmente de tudo,mas o que ela mais vê são mulheres à beira de um ataque de nervos e de uma ansiedade que não se pode medir.Muitas vezes,a cara do noivo,que certamente teve de deixar o futebol com os amigos para acompanhá-las na procura pelo traje ideal,condena:estão ali obrigados e não sentem a menor vontade de se casar.
A Maria me disse que outro dia escutou(não só ela,toda a loja) um noivo dizer: Não sei porque estamos aqui,eu nao disse que iríamos nos casar!
Ixi...a coisa é bem complexa.Por que será que o sonho de toda mulher,ou pelo menos da grande maioria,é se casar? Por que será que a gente quando é pequena brinca de casinha, faz nana com a boneca igual minha sobrinha de um ano e sete meses faz?
Acabei de chegar do cinema.Sempre fui fã de Sex&City,mas nunca me conformei que a felicidade de Carrie Bradshaw,a mulher linda e independente, estivesse sempre vinculada ao sonho do matrimônio.Todas as suas desilusões,todas suas conquistas,suas lágrimas de solidão e muitas de suas lições,compartilhei deitada no sofá ou na cama e, em alguns momentos, eu estava passando por situações muito parecidas...mas sem o ar patético que a Carrie sempre teve.
O que dizer do sonho de Carrie,vestida de Viviene Westwood,nos braços do Mr.Big,com uma cobertura em Manhattan,um closet repleto de roupas e sapatos de grife e um coração partido mais uma vez,destruindo seu bouquet de noiva e uma história que projetou para si durante toda sua vida?
O que dizer do amor, de seus rótulos, de suas fases,obrigações,cobranças e dependência quando tudo isso deveria ser revertido em felicidade e harmonia?
Deve ser difícil conviver tanto tempo com alguém, ver essa mesma pessoa todo dia quando acorda e quando vai dormir. Não seria tão difícil se não fosse uma obrigação de padrões que a gente aprende e vai alimentando,como idéias imutáveis,impostas e rígidas, a de que a tal felicidade é aquilo ali:uma casa,um marido,filhos e um trabalho.
O amor,a convivência,não devem ser como na casa da Barbie que a gente tinha quando era criança.Ken e Barbie em perfeita harmonia, na sala de jantar enquanto esperam que a barriga da Barbie se abra e dali saia uma nenénzinha.
Eu não acredito que existam fórmulas e rituais para que as coisas dêem certo.Sei que a pressão e a ansiedade são venenos para qualquer tipo de relacionamento. A simplicidade, o amor próprio e mais que tudo, o auto conhecimento devem contar mais do que qualquer coisa.
É belíssima a cena em que Carrie e Big casam-se da forma mais simples possível: vestido de um mercadinho vintage qualquer e almoço com os amigos no restaurante da esquina.Parece que todas as neuroses desaparecem naquele momento, como deveria ser em qualquer final feliz.
A realidade está muito longe da tela do cinema,mas eu desejo pra mim,pra minha irmã e pras minhas amigas que a felicidade transcenda todos os padrões e que o amor seja feito da evolução e da consciência de cada uma de nós.

Um comentário:

Renata Carvalho Rocha Gómez disse...

casamento da trabalho... e o dia tao esperado tem as mesmas 24 horas... injusto isso ne