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Eu era bem pequena mas ainda me lembro que enquanto eu jogava pedrinhas naquele rio em que morria de medo de cair,lá pelas 5 da tarde, de ver aqueles homens que passavam em direção ao botequim da minha tia.Com as botas cheias de barro,camisas rasgadas e cigarro de palha na boca, eles pediam a cachaça(ou quando podiam,a cerveja) e começavam a jogar sinuca na grande e velha mesa.Não entendia suas conversas,seus trejeitos mas certamente a estranha ali era eu.A menininha de roupa combinando e lacinho na cabeça,limpinha e com as janelinhas na boca.Mas me ignoravam.
E eu gostava de ficar atrás do balcão e de me esconder no depósito onde tinha maria mole colorida em forma de sorvete com uma surpresinha de plástico pendurada,chiclete com figurinha e caixas e mais caixas de doces.Não podia pegar nada por recomendação da minha mãe.Mas a tia sempre deixava levar alguma coisinha.
No botequim tinha uma televisão bem grande daquelas de tela verde,bem no alto da prateleira.À noite,quando fechava, a gente sentava em cima do balcão e ficava assistindo o Chico Anisio vestido de vampiro.Com as luzes apagadas,é claro.
Eu me lembro também que a gente tomava banho de bacia e era muito divertido.Enchíamos a bacia de aço de água quente e tomávamos um banho bem rapidinho,molhando todo o chão do banheiro. Na cozinha tinha um fogão de lenha e na casa ao lado, o pé de maracujá do seu Otávio fazia sucesso. Descendo as escadas,disputando lugar com as galinhas e frangos,chegávamos à garagem do fusca vermelho e ao paiol cheio de espiga de milho que a gente debulhava pras galinhas.
O rio era território meio que proibido,mas sempre ficava alguém pescando por lá e a gente ia dar uma olhada.A minha tia era o máximo da alegria e da bondade.Tinha um coração que de tao grande não cabia no peito. Quando ela subia o morro pra tocar o gado ofegava e cansava fácil,mas não deixava de me mostrar no caminho, a plantinha que fechava as folhinhas quando a gente a tocava.
Até que um dia,o coração dela parou pra nunca mais bater.Não me lembro de velório,de enterro,de cemitério.Me lembro dela,me lembro do botequim e de uma foto que não sei onde colocaram.
domingo, 14 de setembro de 2008
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Um comentário:
Tás ficando cada dia melhor nessas crônicas, Isa. Praticamente me vejo em cada um dos teus cenários.
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