domingo, 8 de março de 2009

Uma mulher especial

Imagem Google

Alessandro, um dos homens mais mulher que eu conhecia, me deu um ramo de mimosa. Coloquei a florzinha num copo com água para que ela passasse bem o dia, até que eu pudesse levá-la pra casa. Fazia muito frio naquele 8 de março de 2007.
Neste mesmo dia, chegou Alessandra, radiante com seu batom vermelho exagerado, as bochechas de blush e a face inteiramente coberta por um pó que tentava esconder os pequenos fios de barba que nasciam.
Ela não tinha muito dinheiro e se vestia de forma exagerada, com botas de salto alto, óculos escuros enormes e camisetas coladas que denunciavam a tentativa frustrada de parecer peituda.
Alessandra pediu a Francesca para ver um bracelete de couro laminado dourado que estava na vitrine, enquanto Alessandro observava horrorizado aquele ser bizarro. O bracelete quase não entrava no pulso da Alessandra, que fazia um esforço descomunal para não passar o constrangimento de não possuir os braços delicados que sonhava.
Finalmente, conseguiu enfiar o bracelete dourado e, como não sabia se conseguiria retirá-lo, disse que ficaria com ele, sem nem mesmo perguntar o preço. Era uma pseudo mulher orgulhosa, que não queria demonstrar suas fraquezas.
Não era uma cliente assídua. No inverno, passava de casaco de pele velho, cheirando a mofo e naftalina. Quando não lembrávamos mais dela, lá estava a figura, dando tchauzinho do outro lado da rua.
Jamais conseguimos descobrir seu nome verdadeiro, porque ela nunca pagou com cartão de crédito. Aparecia sempre com um maço de dinheiro suspeito que a gente jurava ser da noite anterior.
No nosso imaginário, Alessandra tinha um escritório na avenida principal do parque, que dividia com inúmeras colegas da mesma classe. Por não ser muito bonita, ela tinha que batalhar muito pra garantir um troco pra três, quatro vezes ao ano, vir nos visitar.
Enquanto ela se dirigia ao caixa para pagar o bracelete que obrigatoriamente comprara, eu desci correndo as escadas. Peguei a mimosa que Alessandro tinha me dado pela manhã e sacudi para que o cabinho secasse. Quando cheguei, Alessandra estava de saída. "Ale, feliz dia das mulheres", eu disse, entregando o raminho de mimosa.
Ela sorriu surpresa, me abraçou e disse: Obrigada,tesouro. Até a próxima!

Um comentário:

DANIEL MORAES disse...

Pelo que li, era uma figura bem marcante não?! rsrs. Mandei o convite de acesso ao O Arroto pelo e-mail que recebi. Obrigado por ter aceitado participar desse projeto, tenho certeza que o blog ganhará muito com os seus textos. Bjus e bem vinda.

http://so-pensando.blogspot.com