quarta-feira, 2 de julho de 2008
Reflexões de 2 de Julho
O que é que pode acontecer no giro de um ano da vida de uma pessoa?Talvez,pro senhor do primeiro andar, não tenha mudado tanta coisa...Mentira,ontem sentei do lado dele no restaurante da esquina e ele me disse que vai mudar de apartamento...Muito morro,minha filha,muito morro.
Nos quatro anos em que morei na Itália, não consigo entender ainda o que eu estava procurando.Um refúgio,novos amigos,novas oportunidades,outra língua,um amor,outro tipo de paladar,pizza de Napoli,mortadela de Bologna,presunto de Parma,a possibilidade de sentir a mudança das estações que eu tanto gosto,crescer,aprender,viajar,viver.Talvez eu não tivesse em busca de nada em específico.Fui,gostei e fiquei.Vim,vi,venci.Na própria terra em que Julio Cesar proclamou a célebre frase.
Quando eu achei que tinha vencido,ou naquela altura do campeonato,perdido,ou sei lá, resolvi que algo devia mudar.Após alguns bons meses de dilema e sofrimento,com o coração dividido entre o Brasil, onde eu nasci e a Itália, que tanto amei,me dei um ultimatum.
O dia era esse, 2 de julho de 2007,última chance...
Foi meu primeiro aniversário feliz,na companhia de amigos,na mesa de um restaurante desde que tinha deixado o Brasil.Cheguei um pouco atrasada e,ainda de pé,soltei a bomba: Gente,acabei de pedir demissão.Em breve, volto pro Brasil.
Alguns chocados,outros riam duvidando de mim...e outros ainda pensando num lugar novo pra eu trabalhar.
Me lembro que eu estava muito feliz.Feliz pela companhia dos amigos,pelo carinho de todos eles.Me lembro como eu estava vestida.Camista branca,jeans rasgado Dolce&Gabbana,sandália salto 9,vermelha em verniz também Dolce,minha extravâgancia consumista da época.Desde junho, tinha começado a me presentear:viagem de férias a Ibiza e um antigo sonho de consumo realizado,um bauzinho Louis Vuitton original,onde mandei gravar minhas iniciais.
A vida na Itália durou ainda um pouco mais...de julho a setembro tive muito tempo pra rir,pra chorar,pra ser enganada e pra ter ainda muita decepção...e ainda,a insegurança de estar fazendo a coisa certa ou não.
Posso dizer que o dia precedente ao meu retorno,foi a ocasião em que eu mais chorei em toda minha vida.Acordei com lágrimas nos olhos e cada passo que dava pelas ruas da cidade,parecia que um pedaço de mim ia embora,doía,doía mesmo...verdade,como se um pedaço do meu corpo se destacasse e caísse ali no chão.
Já esperava por isso.
2 de julho,2008,Belo Horizonte, Brasil...acho que no giro de um ano já posso fazer um pequeno balanço da minha decisão. Sim,foi difícil,mas acertada.O 2 de julho de hoje não tem restaurante,não tem amigos,não tem o verão pulsante da cidade e o dia claro até tarde. Não tem as flores que a Lu me deu(mas tem as do Beto),não tem o bolo de chocolate surpresa,não tem os maridos das amigas me carregando no colo e falando bobagem,não tem tanto presente,nem tanto abraço,tampouco vinho,limoncello e caffè. O sabor desta vez é outro, tem gosto de serenidade, com a inquietação de sempre,com os questionamentos de sempre,mas com a tranqüilidade que jamais existiu.
O 2 de julho de hoje tem também um pouco de solidão,mas toda solidão tem um pouco de poesia,todo canceriano tem um bom tanto de sensibilidade e nostalgia.
Aqueles que hoje me chamaram de guerreira, ao telefone, são os que verdadeiramente me conhecem, são os que realmente contaram ao longo destes anos.Meu pai costumava dizer que quando eu nasci,o médico que era seu querido amigo e que me deixou com um grande nó na garganta quando se foi,no início deste ano,disse:2 de julho,dia da Revolução Baiana. Nunca me senti revolucionária,nunca quis mudar o mundo.A única coisa que eu quero revolucionar sou eu mesma,todas as vozes que dentro de mim às vezes brigam,às vezes fazem às pazes,às vezes se calam.Tudo o que eu quero é poder ser assim,tudo o que sou.
Obrigada, Renata,pela belissima homenagem que me fez.Seus olhos conseguem ir além,imagine todo o resto...
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2 comentários:
Vc revolucionou querida....
Revolucionou uma nação de gente mal humorada e escandalosa... tomou café com alguém que nunca viu na vida, e sem saber, vc pode ter revolucionado os dias dela...
Os verdadeiros revolucionários agiram em silencio, no backstage, sem os aplausos mas as recompensas vieram, a alegria, satisfação de colocar a cabeça no travesseiro e saber que fez o que deveria ter feito e da melhor maneira que conseguiu.
Vc revolucionou vidas em silencio, e em silencio elas aplaudiram vc, o universo viu, no tempo certo ele te aplaudira também !
Felicidades no seu dia !
Amiga Bela.
Que linda reflexão.
Deu vontade de te abraçar, de voltar a algumas semaninhas e ter ido a Beagá só para te dar um abraço....Mas no tempo, eu sei que a gente não volta, o maximo que posso fazer é recuperar o futuro. Amiga, suas palavras me levam a crer uma coisa: você amadureceu. É mulher, é menina, é um ser iluminado, um anjo da moda.
A solidão? Não dê idéia para ela, pois esta daí so pega quem se deixar pegar, e você, com certeza, é uma pessoinha que a solidão nunca consiguirá alcançar.
Bjos, da sua eterna companheira de Beagá, Ivna
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