quinta-feira, 31 de julho de 2008

Seu Alberto,o porteiro universitário

Foto by Google

Há anos o senhor Alberto é porteiro no edifício onde eu trabalho. O conheci em 2001, quando comecei no escritório.
Ele é um senhor de uns cinquenta e uns quebrados,negro,alto,forte,muito bonitão.Me lembro que de vez em quando,ele até fazia uns bicos como segurança em festa chique na cidade.Uma vez, até sair em coluna social, ele saiu.
Pois a simpatia e alegria,qualidades indispensáveis em um porteiro de edifício comercial,sobram no Alberto. Ainda mais no tal ambiente de escritórios,empresas,gente estressada.Nada como chegar de manhã,preocupado com tanto trabalho que o dia inteiro promete e dar de cara com o sorrisão do senhor Alberto,desejando um bom dia.A alegria contagiante dele não enfraquece nem mesmo com o desempenho desastroso do Galo,seu time do coração. Mas quando o Galo ganha,aí sim,é só alegria!
Depois de quatro anos fora, eu volto e tá quase tudo igual no edifício da Rua Paraíba. Algumas novas lojas na galeria,outras de longa data e com os mesmos funcionários, as mesmas faxineiras e Alberto e Toninho na portaria, alternando os dias.
Quando me veem,não escondem a felicidade. De volta?!Mas por onde você andou,menina?Agora é pra sempre??Tá bunita!!!
Ô beleza...e eu me sinto em casa,como se jamais tivesse saído de lá e imaginando:Meu Deus, eu moro num país tropical,abençoado pelo senhor,bonito por natureza e com uma gente de simpatia e carisma insuperáveis.
Pois eis que voltando às minhas atividades,procuro me interar do que aconteceu durante todos estes anos com as pessoas que eu costumava a ver todos os dias.A faxineira,o motoboy,um fornecedor,parceiro,entregador de água,etc.
E chegamos ao senhor Alberto. Alberto,menina,agora tá muito chique. Acredita que ele fez vestibular, entrou pra faculdade de Direito e nos dias que não vem trabalhar como porteiro é estagiário no escritório de advocacia aqui do lado??
Não!!!Não pode ser verdade!! Sim que pode,e é.. Nada surpreende quando trata-se do seu Alberto.De terno e gravata já sabiamos que ele ficava bem,livrinho debaixo do braço eu também já tinha visto. De vez em quando,lá dentro da portaria,tava ele,lendo algum livro...
No momento em que soube da novidade,uma alegria tomou conta de mim.Acho que nem era alegria,era mais orgulho. Orgulho de ver um homem na idade do Alberto,que batalha como porteiro,começar novos projetos que certamente faziam parte de seus antigos sonhos. Enquanto a maioria reclama,se frustra e fica parado achando que a vida acabou,lamentando-se que não tem mais energia,pique,dinheiro,saúde,paciência,saco,capacidade,ou seja,encontrando mil e uma desculpas para não realizar um sonho,seu Alberto tá lá,tranquilão.
De vez em quando, eu desço pra tomar um café,ou fazer um serviço fora e tá lá ele de código penal na mão,livros variados de Direito,oclinhos,estudando. Essa semana tá dureza,tem prova.
Seu Alberto é tão bacana que ainda se lembrava da data do meu aniversário.Provavelmente assim como eu lembrava a data do aniversário da senhora que trabalha na loja de móveis de escritorio e que faz anos junto comigo.
Me deu um grande abraço,desejando tanta felicidade.
Hoje, passando pela portaria,peguei o Alberto falando sobre Aristóteles e a política.Fui subindo devagarinho as escadas para escutar mais um pouco de seu discurso.Pra mim, a imagem do porteiro que falava sobre o Galo era incompatível com aquela do homem que discute a política e filosofia, cursa Direito e tem planos de fazer pós e mestrado. Pensativa, me perguntei: quanto ainda terei de evoluir para chegar ao patamar do porteiro do edifício onde trabalho,o querido seu Alberto?

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